Debaixo deste toldo estou
abrigado da chuva copiosa, persistente e temporã.
Cada gota que se precipita
sobre a mesa vermelha desfaz-se em centenas de gotículas
minúsculas que perecem competir pela melhor posição para, também elas, se precipitarem pelo buraco de
suporte ao chapéu e se juntarem, outra vez, formando e engrossando o caudal que
repetidamente completará o ciclo a que estão
obrigadas.
Tem vantagens este refúgio da tarde. A esplanada está deserta de todo o resto do mundo, à
excepção da chuva e de mim. Que grande momento para ambos: eu tentando abrigar-me
e ela procurando atingir-me, como num duelo de amores em que, no final, ganha a
compreensão de ambos.
Tam, tum, tam, tam, tam, tum...
E esta melodia,
original e verdadeira,
faz-me perceber que a chuva,
à sua maneira,
na sua infinita sabedoria,
quer educar o meu ouvido
para outro despertar,
que até agora não entendia.
Ficámos amigos.
Passei a não me abrigar e ela não parou de me atingir.
.
Passei a não me abrigar e ela não parou de me atingir.
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