Acerca...


A fotografia expressa sentimentos e partilhar esses sentimentos faz da arte uma aventura emocionante.

Gosto da mistura de cores, dos espaços verdes e amplos, gosto das montanhas e de respirar a sua tranquilidade…


setembro 28, 2014

Amizades...




Debaixo deste toldo estou abrigado da chuva copiosa, persistente e temporã.
Cada gota que se precipita sobre a mesa vermelha desfaz-se em centenas de gotículas minúsculas que perecem competir pela melhor posição para, também elas, se precipitarem pelo buraco de suporte ao chapéu e se juntarem, outra vez, formando e engrossando o caudal que repetidamente completará o ciclo a que estão obrigadas.
Tem vantagens este refúgio da tarde. A esplanada está deserta de todo o resto do mundo, à excepção da chuva e de mim. Que grande momento para ambos: eu tentando abrigar-me e ela procurando atingir-me, como num duelo de amores em que, no final, ganha a compreensão de ambos.

Tam, tum, tam, tam, tam, tum...

E esta melodia,
original e verdadeira,
faz-me perceber que a chuva,
à sua maneira,
na sua infinita sabedoria,
quer educar o meu ouvido
para outro despertar,
que até agora não entendia.

Ficámos amigos.
Passei a não me abrigar e ela não parou de me atingir.


.

setembro 19, 2014

Ribeira da Gardunha...


ou Ribeira do Vale D'urso, como me habituei a chamar-lhe.

Foi neste açude da ribeira, também conhecido por Poço do Barquinho, que aprendi a nadar.


Criança ainda, seis ou sete anos, juntamente com outros amigos da mesma idade (o Jorge americano, o Manuel Augusto, o Carlos Canhoto... dos que me lembro), metemo-nos a caminho ainda cedo - naquele tempo qualquer garoto tinha essa liberdade de movimentos, preparados para os cerca de seis quilómetros que separam o Bairro da Senhora da Conceição, no Fundão, até este local no Souto da Casa.


Como a licença da Mãe para estas aventuras era obrigatória, adoptei a estratégia da promessa de assistir à missa matinal, celebrada pelo padre José Rebordão, que acontecia cerca das sete horas da manhã no Preventório - uma casa albergue para meninas que vinham estudar para o Fundão.

O padre vivia com a mais nova das cinco filhas, a menina Aldinha, no primeiro andar da casa onde o meu tio António Adelino - António do Vale D'urso como era mais conhecido, tinha a taberna.
Logo, esta proximidade entre vizinhos inviabilizava safar-me daquela maçada.

Depois do santo ofício, lá metemos pernas ao caminho para uma manhã de aventura que começava logo no início com um assalto à figueira do Elói. 
Enorme, as ramadas trepavam por cima do telhado da imensa casa de granito, à procura do Sol, e as suas abas pendiam sobre o muro branco que ainda ladeia a estrada. Lampos, luzidios e mesmo à mão de semear, eram um aconchego de barriga naquele tempo de vacas magras.
De repente apareceu o velho Gadanho, aquele gigante, que sabíamos ser de poucas conversas pela doença da loucura que o acometia na altura de pagar a renda, enorme de altura e pela robustez do corpo, cara redonda e larga pela barba curta mas abundante, atrás do carro de mão de roda também de madeira, cheio de hortaliças frescas que iria vender na praça. Todo o conjunto pesava e assustava, mais não fosse pelo barulho na descida empedrada da Vila Alberta, nome da casa e das terras que ele tratava. Foge...!

Atalhávamos pelo caminho que começava no portão da Quinta do Convento, sempre junto ao muro. Se ganhávamos tempo de caminho nestes atalhos também era garantido que o gastávamos, de imediato, em brincadeiras.

Este percurso era polvilhado de seixos brancos que quando esfregados um no outro produziam faíscas de luz. Ainda me lembro do cheiro a queimado que ficava no ar depois da fascinante experimentação.
Chegados ao "monumento", como habitualmente era chamado à edificação em louvor da Senhora do Rosário de Fátima, era garantido que treparíamos pelo cabo do pára-raios, localizado na parte de trás da construção, e alcançávamos a placa superior que também serve de telhado à pequena capela.
Deste ponto alto a vista sobre o Fundão e a Cova da Beira é soberba, acrescendo que a luz matinal, com o Sol ainda meio entretido com a Gardunha, amarela os brancos do casario e doura as folhas do lado nascente dos castanheiros jovens, ainda arbustos, destacando o verde das opostas.
Na altura era possível distinguir alguns fumos que ainda emanavam de telhados, criando a falsa ilusão de neblina. Ao longe, no grande vale, o afluente ribeira da Meimoa e o rio Zêzere que se encontram aqui perto, em terras de Alcaria.

Retomado o caminho surgia-nos, mais à frente, o cruzeiro do Convento de St.° António, - ou do Seixo. 
Sentávamo-nos nele por ser um ponto estratégico. Cochichando enquanto trespassávamos com o olhar o pequeno portão de ferro, de acesso à Quinta do Convento, amanhada pelo "velho" Torrinhas, que tinha fama entre a garotada.
Mas, do outro lado do pequeno portão de ferro, havia uma pereira e o portão estava aberto!
Tinha de ser, mesmo sem fome...

Traquinice aprontada e era já o alto muro de granito, escurecido pelos musgos e pelos anos, que nos detinha um pouco mais. 
Uma pia de granito, a meio da parede, prometera, em tempos, água aos caminhantes. Seca servia agora de poleiro e degrau para se mirar por cima do muro, para dentro daquele sítio proibido cheio de carvalhos enormes e de segredos. Mesmo por de trás da pia um tanque, também ele de largas lajes de granito, cheinho a transbordar de água que vinha de uma nascente acima da Capela da Senhora do Miradouro.
Que sede! mas, ali e no momento, nada a fazer senão seguir viagem.
Haveria, no caminho, outros poços...

Com um ramo de carvalho com algumas bugalhas, na mão, sorrateiramente, entrávamos pelo portão da Fábrica da Resina e, com um pouco de sorte, o enorme tanque onde a armazenavam, mantendo-a quente e líquida, permitia-nos, à socapa, introduzir nela o galho e ala, que se faz tarde.

Quando o coração abrandava a correria já estávamos de novo na estrada e o ramo, vidrado e cristalino, se com sorte não tivesse partido pelo desenfreio era sempre uma bonita oferta para a mãe perdoar algum atraso. 
Ficaria guardado junto à mina da Quinta das Tílias, assim chamada porque dela corria água, em levada junto à estrada, depois encanada até à quinta, para lá do cemitério da Aldeia de Joanes, dois ou três quilómetros mais abaixo.
Adiante...

Duas o três marcas, em jeito de assinatura, riscadas na casca das faias que ladeiam a estrada, para marcar território, uma investida a uma cerejeira, das poucas que havia na altura, e já estávamos no imenso e jovem pomar de maçãs que um de Alcongosta ali plantou.

Para a fruta ainda era cedo mas um enorme e profundo tanque, ali construído, merecia uma inspecção. Comprido e largo e com mais de dois metros de altura. A água era pouca, talvez meio metro dela e, de tão lamacenta, só se podia adivinhar o fundo.
Mas uma escada de ferro transfigurava-o em piscina.
E estava calor.
Entrou um, e outro, enquanto eu agonizava na borda pelo disparate de não saber nadar.
Vingar-me-ia!

Já no Souto da Casa, mitigada a sede no chafariz cimeiro, junto da Capela de S. Gonçalo, arrepiávamos caminho por entre quintais.

A orientação dependia do declive, porque a ribeira estava lá em baixo.
Faltava pouco e, por isso, acelerámos o passo que passou a correria.

Tínhamos chegado ao céu.
Á vista da água transparente e pura, foi um instante enquanto os calções e camisas voaram para cima do areão grosso que sustenta o açude.
E foi espadanar até mais não.
Deitado, de costas voltadas ao sol, agarrei-me a uma pedra da margem, esticado e com os pés orientados para a parte mais funda, ensaiei os movimentos que o Raposo me tinha ensinado na piscina municipal.
Foi instantâneo.
Quando senti o corpo impelido pela força das pernas, de tanto entusiasmo convenci-me em absoluto que já não havia segredos, tinha domado a besta. 



Por outro lado, a confiança advinha de este ser um local já conhecido pelo facto de a minha família muitas vezes se reunir aqui, aos Domingos preferencialmente, para passar o dia e gozar o frescor da água e da sombra dos salgueiros.

Muito gostava o meu tio António destes encontros, que ele próprio entusiasmava e financiava.

O cheiro das ervas molhadas empresta à nossa ribeira um cheiro característico com fragrâncias que hoje passei a identificar, sobressaindo a menta do poejo, a erva doce...

Por entre as pedras escurecidas pelas algas esgueiravam-se pequenos bordalos e coloridas trutas, da cor do arco-íris, que lhes deu o nome.
Outros, mais pequenos, como eu ainda indiferentes ao conhecimento das coisas da vida, vinham mordiscar-me os pés, talvez por curiosidade dos pés brancos ou para sugar algum nutriente que eles levantavam do lodo.
Um festival de movimento e cor, reflexos finos e rápidos carregados da cor do espectro, atraíam cardumes de peixes minúsculos àquele perigo ignorado, travestido de plumas apetitosas cheias de cor vistosas: o Jorge tinha levado meia dúzia de amostras - ou medalhas, artefactos isco com três anzóis (fateixas), próprios para apanhar peixes de outras latitudes e dimensões.
Gozei aquele bailado indiferente à ineficácia do propósito.




Ao que não fiquei indiferente foi ao adiantado da hora.
Aquelas picadas nas costas, de cada vez que o frescor da sombra dos salgueiros era maior, alertara-me que tinha apanhado sol a mais, sem camisa.
E seria quase hora de almoço, e tínhamos o caminho de volta, e mais não sei quantas doideiras a entreter. 
E a fome a apertar, as costas a doer e tinha o Luís Maia, o Fernando Leitão e os garotos da Rua de Cima, o João Manaia, o Chico Campanha, o Zé..., preparados para a bola no largo das oliveiras da senhora da Conceição.
Não havia tempo a perder.

Mas duas desafortunadas criaturas, metidas dentro de um “garrafo” de vidro, ainda nos obrigariam a dar uma volta pelo Castelejo, onde existia um fontanário cuja bica caía numa minúscula bacia de pedra.

De tão pequena que tivemos a impressão que os peixes eram grandes de mais em tamanho, mas também eram poucos para levar para casa.

Foi o primeiro julgamento, popular e sumário, em que participei.


. 

setembro 18, 2014

Tormentos...

E eu tão só...


Sequei.
Na ância de alcançar a luz,
pequei.
À minha volta
A efemeridade constitue-se,
e eu absorto.
Não pactuei,
vivi só!
Escolhi o palco onde actuei.
Mas gozo essa efemeridade,
no que outros entendem perpétuo,
um sonho débil.
Contento-me.
Com tão pouco.
Louco?
Não, paciente!

Fotografia ilustrada...

Humos de Morille / Fumos da cidade

Elementos afirmadores das vivências e das permanências das sociedades, as chaminés constituem parte integrante da percepção do horizonte construído de qualquer comunidade. Como afirmou Vito Lupo, este tipo de elementos “como herança do passado, forma um capítulo importante das história das alturas, cuja dimensão construtiva está escurecida pelos modelos arquitectónicos mais nobres”.



CHAMINÉS - CERTEZAS DA EXISTÊNCIA
Fotografia ilustrada de Belarmino Lopes

As chaminés e toda a sua amplitude metafórica constituem o elemento comum deste conjunto de apreensões - impressões modificadas do fotógrafo Belarmino Lopes, incutindo nas composições um ritmo intrínseco e uma intensa presença ao mesmo tempo repetitiva e única.
As superfícies são autênticas releituras cuja origem primeva se funde no fugaz momento de um itinerário do olhar vincado pela descoberta e posterior captação imagética, aqui conciliados e restaelecidos em novas cromias, planos e horizontes.
Noutro sentido, as captações de Belarmino Lopes assumem-se como um inventário de presenças e de sinalizações da vida e dos ritmos dos quotidianos da comunidade apreendidos através das chaminés.
Na contínua mutabilidade da paisagem do local, Morille terra de  futuros interrogados e  de ares lavados, a chaminé, matéria de permanência, levanta um constante e distintivo perfil estratigráfico tecido por cheiros, por sons e sobretudo por fumos, criando atmosferas e gradientes luminosos únicos.
Estabelecendo nós e laços ímpares entre o fogo, a casa e o viver, a chaminé remete-nos, quase sempre, para uma dimensão olfactiva e para uma geografia da memória individual fundada na casa. Para o centro do primordial viver, para o ponto focal de onde, afinal, partiram todas as concentricidades espaciais posteriores,para o espaço genético de todos os esteios da convivência humana, para a domus aquele elemento activo da consciência do ser, um “espaço feliz”, como declarava Gaston Bachelard, espaço de segredos, de estremecimentos e de memórias que conduzem à imagem do “cronotopo idílico” doméstico de Mijail Bajtin. O fogo foi e é o centro desse viver, gerador de uma ordem social primordial, ainda que na voragem dos dias nossos, como escreve o arquitecto Parra Bañón, «O fogo já está proibido, e o fumo, por excessivo, condenado», as chaminés já não são o canal que anuncia a presença «Já não servem para anunciar que a casa está habitada, para, se está aceso, mostrar que há alguém lá dentro. O fogo já não é uma linguagem, apenas uma fonte de energia arqueológica».
São estes alguns dos sentidos que emanam das composições pictórico-fotográficas de Belarmino Lopes, ingénuos ensaios que buscam captar harmonias à beira de linhas de friezas quentes, recusando estridências e a indicação de ordem em aparentes silêncios.
As obras reforçam e revelam a estrutura geométrica do visível e das suas regras que interiormente suportam a compreensão ordenada dos espaços organizados e ordenados, reforçados pela clareza das técnicas de impressão, colorindo inesperadas perspectivas. Descobrem-se diferenças entre leituras semelhantes.
São posições conjuntamente construídas, perceptíveis não em sucessão ou alternativa mas num tempo harmónico perceptível num olhar, ou convidando à disponibilidade do percurso infindo por linhas, pontos de fuga, planos coloridos horizontes azuis, ocres, campos e relevos de palha rasa, telhados e superfícies de ladrilhos alvos e rubros. Elementos unidos em veredas geométricas e de complexas linhas em jogos de claro-escuro num ritmo construtivo de memorizações visuais.
Estas textualidades de luz não procurarão a melancolia embora não seja estranha a presença de alguma solidão nas sombras e volumes insinuados em intensas luminosidades do lugar.
Belarmino Lopes descobre num elemento arquitectónico que tem por destino o repetir-se, aquilo que o isola e individualiza: a sua a limpidez e seu porte, perscrutando a vida.
A chaminé mensageira entre a terra e o céu, entre os homens e os deuses, emite presença humana, aquece a alma. Substantivo feminino, ela é hoje uma referência simbólica e uma memória arquétipa cuja sombra nos precipita nos versos do esquecido poeta “louco” António Grancho que noutras raias e interioridades fazia ecoar nos campos cálidos a sombra nocturna da chaminé:
“Noite luarenta / Noite a luarar /Noite tão sangrenta /Noite a dar a dar/Na chaminé da planície/a solidão a cismar /na chaminé da planície/noite luarenta a dar a dar/Noite luarenta /noite de mistério /… / O cavalo a luarar /a lua a fazer meiguice /noite luarenta a luarar /noite luarenta a luarice.”

Pedro Miguel Salvado - Investigador da Universidade de Salamanca

[A propósito da exposição com o título HUMOS DE MORILLE (Salamanca, SP) que esteve integrada no

ENCUENTRO TRANSFRONTENRIZO DE ARTE DE VANGUARDIA

ENCUENTRO Y FESTIVAL DE POESIA Y DE LAS ARTES EN EL MEDIO RURAL

Morille 9, 10 y 11 de Julio 2006

a convite do Ayuntamiento de Morille esta exposição esteve patente até 31 de Setembro 2010.]

Em exposição temporária no Bar Passadiço, na aldeia de xisto Janeiro de Cima (Fundão).

setembro 17, 2014

Viagens na minha terra...

Ilha Terceira, Açores...




Perdi-me em algum lugar,
ao longo do caminho,
em busca da chuva,
que veio até mim
do jeito que eu queria que viesse!
E, lá no fundo, o Monte Brasil,
mesmo de fronte a Angra,
adormece nas águas atlânticas,
enquanto eu sonho o verde
na Serra de St.ª Bárbara.
Não oro, porque eu e a chuva
temos um pacto.


setembro 13, 2014

Serra da Gardunha... percorrê-la a passo!



A destempo.
E não querendo ferir susceptibilidades,
Mas com pena que o evento
Não mereça outras habilidades.

Falar do que não se conhece
é traição!
Porque quem aqui amanhece
Tem esta serra no coração.

Perdemos tudo de nada,
Numa fracção de segundo,
Porque, por aqui, quem manda
Pensa que é dono do Mundo.

Mas estas pedras não têm dono.
Nem são azuis ou amarelas.
São aquilo que o meu sonho
Quiser fazer delas.

Para mim serão sempre pedras.
Com a cor do puro granito.
E elas, mesmo no meio das ervas,
Ouvem e percebem o meu grito.

Vinga-te, pois, Gardunha,
Não permitas abusos.
Conhecendo-te a ponta da unha
Mereces a cor que usas.

Não permitas que um salafrário,
Por ignorância ou oportunidade,
Te retire do teu sacrário
Para gozar a sua vaidade.

Vinga-te, pois, Gardunha.
Permite o livre arbítrio.
Porque se te definirem a cor da unha
Deixarás de ser o meu cenário.

E não ouvirás mais Navarro
Régio, Nabinho ou Torga
Subir ao alto de um teu camarro
Perguntar-lhe porque chora.

Não ouvirás mais Alfredo da Cunha,
Manuel Dias Catana,
Ou a Maria Abrunha
Dizer-te a intensidade como se ama.

Desprende-te dos grilhões,
Das mordaças que te querem pôr fim,
Porque já cá estavas há milhões
E ficarás depois de mim.

setembro 08, 2014

Floralidades...

Hypericum calycinum 

Tenho, por vezes, alguma dificuldade em descrever estes estados de espírito. As formas e cores atingem uma dimensão que ultrapassa os sentidos. O entusiasmo é demasiado e inconsolável. 


Há nestas formas e cores cenas de um espectáculo não repetível. Quanto mais pequenos mais apetece eternizá-los, como se cada pedaço de cor fosse um pedaço de memória que vale a pena preservar. 



 Lembram-me aqueles cristais, criados nas entranhas da Terra e onde foram guardados durante milhões de anos até que a mineração os trouxe à luz do dia.


E arrisco ilustrar o texto... e o pensamento!

setembro 06, 2014

Burgau...

(...)
A brisa passara pela esplanada do Beach Bar e afagava agora o mar, em rodopios descoordenados. O sol cintila sobre as pequenas ondas, em reflexos rápidos e pequenos, como se milhares de diamantes ali estivessem a prestar homenagem à cumplicidade dos elementos. A passagem de um pequeno bote deixa, atrás de si, um rasto de seda brilhante, pura e branca, sobre o verde esmeralda da água, acompanhando-o até desaparecer entre as falésias que albergam esta pequena mas sedutora praia do Burgau.
São lugares como este paraíso terreno, onde também se respira simpatia e tranquilidade, que me fazem voltar, sempre à mesma cadeira, naquela mesa da esplanada e onde o sol é o último a ir-se embora.
O lugar é povoado de muitas culturas, especialmente portuguesa e britânica, que acrescentam um colorido fantástico de sons e fantasias. Reconheço caras estrangeiras que parecem não o ser. Vêem todos os anos a este local em busca desta magia que cria raízes, como nas plantas, erguendo o corpo em direcção ao sol que os alimenta e solidifica amizades.
(...)
Bem-haja beirão à equipa profissional do Beach Bar Burgau e a todos os outros amigos que aqui conheci.
























setembro 02, 2014

Luz da noite...



Passos curtos,
demorados.
Absorvida...
como se o novo dia
pudesse mudar a sua vida.
Passos curtos,
contados.
Sonhando...
Como se um sonho
Se construísse caminhando.
Passos curtos,
pensados.
Baixinho!
Como se caminhando
pudesse reconstruir o caminho.

(...)

Em um daqueles raros e pequenos prazeres da vida, escolhemos La Alberca (província de Salamanca, Espanha) para as mini-férias da passagem daquele ano.
O local é de paz e sossego, magnífico.


Lá em baixo, nas Batuecas, corre um rio curto mas demolidor, a lembrar o Douro, aquele dos três irmãos que acordou mais tarde que os outros e que, para cumprir o destino, esgarnou piçarras de xisto duro como granito e esculpiu as margens que, milhões de anos mais tarde, levaria Marquês de Pombal a criar nelas a primeira Região Demarcada do mundo.


Vem este devaneio a propósito de que, tal como o afluente Coa, também este rio Batuecas foi escolhido pelo homem do paleolítico superior, até ao neolítico, para expressar o seu talento e sentimentos "retratando" o quotidiano das suas vidas e nos endossar a responsabilidade da sua interpretação percebendo que o nosso futuro depende, e muito, do conhecimento e das memórias do passado: refiro-me às bem preservadas e protegidas "pinturas rupestres" do Parque Natural del Valle de Las Batuecas, integrado na lindíssima Sierra de Francia, ou Penha de França como também é conhecida nesta região de Castilla e Leon.