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A fotografia expressa sentimentos e partilhar esses sentimentos faz da arte uma aventura emocionante.

Gosto da mistura de cores, dos espaços verdes e amplos, gosto das montanhas e de respirar a sua tranquilidade…


outubro 28, 2014

Crónicas sem fim...

Dois pares de óculos....



Uma pequena garota, em traje de romaria ou domingueiro e lenço colorido na cabeça, aproxima-se e pretende vender-me uma senha, para um sorteio de escola que viria financiar uma viagem de estudo, como aquelas que eu fiz, no meu tempo de primária. Como foi doce a lembrança do cheiro da sala de aula, do cheiro a lápis viarco, do cheiro das folhas e flores que se secavam no meio das páginas dos livros e lhes adicionava um cheiro agridoce complementando o sabor da leitura e prometendo facilitar a sua apreensão.
Levanto os olhos para olhar ao longe, sem óculos, e nessa imensidão difusa sonho nas lembranças desse tempo, do almoço na escola, todos os dias igual ao anterior, composto por uma colher de sopa de óleo de rícino, na altura mais conhecido por óleo de fígado de bacalhau, da sopa de feijão a ferver, para cozinhar bem aqueles seres minúsculos que teimavam em boiar no caldo apesar da tentativa de os salvar com a colher e terminava com uma fatia em triângulo agudo de queijo flamengo, ou duas conforme a cara da "servente". Eram breves estes almoços porque, lá fora, era hora de recreio e tínhamos de correr bastante que o tempo passava depressa e, se era Verão, mesmo assim, dava para um mergulho no Poço do Barro. Na hora da saída arrumava desordenadamente os materiais na sacola de sarja azul que a minha mãe tinha feito, alça cruzada pelo ombro e corria até à Senhora da Conceição, o bairro onde me conheci menino até mudar para o número catorze do largo do chafariz das Oito Bicas, ou Largo José Navarro, nome da figura que mais tarde, já homem, iria ler para melhor entender a serra da Gardunha.

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