Resondi-lhe que aceitava o desavio na condição de apenas se fazer uma demonstração do uso do aparelho, para a fotografia, porque estas atitudes fazem parte da cultura popular e vale a pena o registo.
Dito e feito. A pé, tarde escaldante, calcorreámos as margens nuas do Zêzere em busca do pesqueiro adequado ao diâmetro do aparelho: a tarrafa para funcionar bem, necessita de uma profundidade inferior ao seu raio, diz o Mestre, que herdou a mestria do sogro.
Dentes fortes cerrados nas malhas da rede preparada, enquanto a mão esquerda auxilia tornando leve dois terços da malha pejada de chumbos, a mão direita apertada na malha restante que será a primeira a voar, pelo arremesso forte, e que arrastará todo o artefacto de forma a que se abra, ainda no ar, caindo na água num círculo perfeito que afundará rápido, pelo peso das pequenas peças de chumbo, de cerca de 50grs cada, fixados na borda da rede a espaços de 2cm.
Pousada no fundo, os peixes tentarão ainda fugir ao perigo mas acabarão aprisionados no seio (uma espécie de bolsa em que termina a rede) que se fecha ao puxão constante e tenso, por forma a mante-la fechada até à margem.
A altura média de uma rede, em uso nos nossos rios, é de cerca de 2m, formando um arco de 4m de diâmetro e o seu peso, em seco, pode atingir os 4kg.
Bogas, bordalos, barbos, truta são as espécies autóctones e agora, infelizmente, também se vão capturando espécies alóctones como percas, carpas e achigãs. Estas últimas espécies foram introduzidas nas nossas águas, obedecendo a um ciclo de povoamentos estúpidos que, por razões económicas, vai dizimando as "nossas" espécies privando-nos, no futuro próximo, das iguarias a que a cultura gastronómica local nos habituou. Ainda não há muitos anos que por aqui se capturavam "eirós" (enguias) que a construção de barragens, como a de Castelo de Bode - principalmente, não acautelando a sua passagem, impediram o seu ciclo normal de vida no nosso rio Zêzere, até que voltassem ao Mar dos Sargaços para desova. Aconteceu o mesmo com a truta, particularmente a Arco Íris (salmonídio), que escolhia as frescas águas das nascentes destes cursos de água para aí depositarem os ovos, perpetuando a espécie.
Fica o registo, possível, e o desabafo...